Tudo começou em 1933, quando a RKO Radio Pictures, percebendo o potencial da tela grande do cinema para dar ao público a dimensão de um monstro gigante e assustá-lo com isso, lançou King Kong, um filme sobre um gorila gigantesco que, ao ser removido de seu habitat natural, a misteriosa Ilha da Caveira, aterroriza a população de Nova York.
A Criação de King Kong
A brilhante ideia foi de Merian C. Cooper, coprodutor e codiretor do filme em parceria com Ernest B. Schoedsack, com quem já havia feito dois docudramas e um drama de guerra. Fascinado por gorilas desde criança, Cooper, um ex-aviador, ao se envolver com a indústria de cinema, não demorou a pensar em fazer um filme de terror sobre um gorila. Foi observando um avião sobrevoar o New York Life Insurance Building que ele decidiu que o filme deveria terminar com o animal enfrentando aviões de guerra no topo do prédio mais alto do mundo (que acabou sendo o Empire State Building, completado em 1931), e o roteiro foi construído em torno disso.
O nome "Kong" é uma combinação de "Congo" com o som forte da letra "k" de "komodo", e surgiu do interesse inicial de Cooper em capturar um gorila verdadeiro do Congo para o filme e colocá-lo para enfrentar um dragão de komodo, usando truques para fazer parecer que ambos fossem gigantes. Para o filme não ser confundido com os docudramas da época, que costumavam ter títulos de uma palavra só, o chefe de produção David O. Selznick decidiu adicionar ao título o termo "king", significando "rei", e assim o gorila gigante passou a ser chamado de King Kong.
A ideia de usar animais reais logo foi deixada de lado, e, em vez disso, os efeitos especiais revolucionários de Willis O'Brien (que já havia feito algo parecido em O Mundo Perdido, de 1925) combinaram técnicas diversas como animação stop-motion, matte painting, rear projection e miniaturas para dar vida a Kong e aos dinossauros da Ilha da Caveira.
Nos dias de hoje é difícil não rir do gorila quando ele aparece pela primeira vez, com sua aparência de boneco e movimentos irreais, mas, em 1933, com seu ineditismo, a cena era realmente assustadora! Ainda hoje é impressionante ver como O'Brien e sua equipe, mesmo com as limitações da tecnologia de sua época, conseguiram dar expressividade às criaturas do filme, de modo que conseguimos sentir claramente suas emoções e até nos sensibilizar com elas.
O romancista policial Edgar Wallace, chamado para escrever o argumento de King Kong, desenvolveu uma história metalinguística em que a jovem atriz Ann Darrow (vivida por Fay Wray, uma das primeiras "scream queens" do cinema) embarca numa viagem à citada ilha para rodar um docudrama com a equipe do cineasta aventureiro Carl Denham (inspirado no próprio Cooper e interpretado por Robert Armstrong, que, devido à sua semelhança física com Cooper, ainda seria chamado para vários outros papéis inspirados nele, como em Monstro de um Mundo Perdido, de 1949, em que contracena com outro gorila gigante, o brincalhão Mighty Joe Young, que, aliás, voltou à telonas em 1998 no remake da Disney Poderoso Joe). É Denham quem chama Kong de "a oitava maravilha do mundo" e, buscando promover a estranha relação do gorila com Darrow para explorá-la financeiramente junto a seu público, torna óbvios os paralelos do enredo com o conto de fadas A Bela e a Fera.
O Filho de King Kong
King Kong fez um estrondoso sucesso em seu lançamento, chegando a ganhar uma continuação no mesmo ano, O Filho de King Kong (Son of Kong, em que Armstrong repete o papel de Carl Denham e, desta vez, contracena com um gorila albino), e fez ainda mais sucesso em seu relançamento em 1952. Isso influenciou a criação de vários outros monstros gigantes do cinema, e o mais bem-sucedido deles foi o lagarto japonês Godzilla, da Toho Studios.
O King Kong da Toho
Foi justamente a Toho que produziu os dois filmes seguintes do gorila: King Kong vs. Godzilla (Kingu Kongu tai Gojira, de 1962), em que, para enfrentar o lagarto, o gorila é apresentado num tamanho muito maior; e A Fuga de King-Kong (Kingu Kongu no Gyakushu, de 1967), vagamente inspirado numa série animada infantil do gorila que havia sido lançada em 1966 com o título The King Kong Show e que chegou a ser exibida no Brasil simplesmente como King Kong. Tanto a série animada quanto o segundo filme têm como vilão um personagem chamado Dr. Who (sem relação com o seriado britânico de mesmo nome), que comanda uma cópia robótica de King Kong chamada Mechani-Kong.
As Animações de King Kong
A série animada fez história como o primeiro anime produzido no Japão por uma companhia americana, a Videocraft International (famosa por animações stop-motion como Rudolph, a Rena do Nariz Vermelho, e mais tarde conhecida como Rankin/Bass), numa parceria com a japonesa Toei Animation, e mostra o gorila com um garotinho como amigo (que não existe nos filmes), eventualmente contracenando com o velho Capitão Englehorn (personagem do filme de 1933).
Foi também a primeira adaptação do gorila para animação, seguida por um musical de 1998 chamado O Poderoso Kong (The Mighty Kong, com o comediante Dudley Moore fazendo a voz de Carl Denham), uma série de 2000 chamada Kong - The Animated Series (inédita no Brasil) e uma outra, atualmente produzida pela Netflix, chamada Kong - Rei dos Macacos (Kong - King of the Apes).
King Kong nos Anos 70 e 80
O primeiro reboot hollywoodiano de King Kong saiu em 1976 pela Paramount Pictures, produzido pelo italiano Dino De Laurentiis (de Conan, o Bárbaro), dirigido por John Guillermin (do filme-catástrofe Inferno na Torre) e estrelado por Jessica Lange (do seriado American Horror Story) e Jeff Bridges (de O Grande Lebowski), com o mestre da maquiagem Rick Baker (de Um Lobisomem Americano em Londres) assumindo o papel de Kong ao vestir a roupa do gorila, que ele mesmo desenvolveu em colaboração com o artista de efeitos especiais Carlo Rambaldi.
Apesar do realismo proporcionado pelos efeitos especiais atualizados de Rambaldi, Glen Robinson e Frank Van der Veer, que até ganharam um Oscar, essa versão perdeu muito do charme do filme original, substituindo todos os personagens humanos por outros menos interessantes, removendo da trama os dinossauros da Ilha da Caveira e trocando o Empire State pelo World Trade Center (que continha os edifícios mais altos do mundo na época), mas também fez sucesso de bilheteria.
Teve uma sequência em 1986, King Kong 2 (King Kong Lives), com outros personagens, outro elenco (encabeçado por Linda Hamilton, de O Exterminador do Futuro), a revelação de que King Kong não morreu no filme anterior, a descoberta de uma fêmea da espécie (apelidada de Lady Kong) e o nascimento de um filho do casal gorila (o Baby Kong, que torna essa sequência reminiscente de O Filho de King Kong).
A sequência foi um fracasso de público e crítica, mas eu me lembro de ter ficado impressionado, quando criança, ao ver o trailer do filme no cinema, a primeira vez que vi King Kong em tela grande, ainda que apenas num trailer. Com seu Baby Kong, a sequência chegou a inspirar no Brasil uma música infantil dos palhaços Atchim & Espirro, com o ridículo título King Kong e Seu King Konguinho!
O King Kong de Peter Jackson
O segundo reboot hollywoodiano saiu em 2005 pela Universal Studios, pelas mãos de Peter Jackson (da trilogia O Senhor dos Anéis), com efeitos especiais supervisionados por seus colaboradores de longa data Richard Taylor e Christian Rivers e, na atuação, Naomi Watts (de Cidade dos Sonhos) como Ann Darrow, o comediante Jack Black (de Escola do Rock) como Carl Denham e Andy Serkis (especialista em personagens digitais desde que fez o Gollum de O Senhor dos Anéis) como Kong. Esse eu fiz questão de ver no cinema, e valeu a pena! O amor do diretor pelo filme original, que ele sempre disse tê-lo influenciado a se tornar cineasta, rendeu a melhor versão de todas!
Ambientado em 1933 para manter todo o clima da versão original, o filme refaz todas as cenas que por questões técnicas ou de censura haviam sido cortadas daquela versão, num tributo respeitoso e minucioso, finalmente devolvendo o gorila ao topo do Empire State. Melhor ainda, ao mesmo tempo em que preserva o enredo original, o filme consegue aprimorá-lo, removendo ou pelo menos suavizando bastante o racismo gritante e o machismo estrutural presentes ali, afinal, em 2005 isso já não seria algo tolerável. Ganhou os Oscars de Melhores Efeitos Especiais, Edição de Som e Mixagem de Som.
King Kong no MonsterVerse
E assim chegamos ao mais novo reboot hollywoodiano de King Kong e ao mesmo tempo da franquia Godzilla pela Legendary Entertainment, com distribuição da Warner Bros., um ambicioso projeto de universo compartilhado nos moldes do Universo Cinematográfico Marvel, que recebeu o nome de MonsterVerse e foi lançado em 2014. Falarei mais do MonsterVerse numa outra resenha, que será específica sobre isso, logo após minha próxima resenha, que será sobre Godzilla e outros kaijus!
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