Resenha de Filme: Tudo Bem no Natal que Vem

O primeiro filme brasileiro lançado pela Netflix surpreendeu ao entrar não apenas no primeiro lugar do Top 10 Brasil, mas também no topo da lista em Portugal, Alemanha, Áustria e Suíça, e, o que é mais incrível, embora não tenha atingido o primeiro lugar nos EUA, conseguiu entrar na lista dos mais vistos no país, que tradicionalmente é avesso a filmes não falados em inglês, além de ter conquistado posições nos Top 10 de países como França, Itália, Polônia e México.

Leandro Hassum Ataca Novamente

O filme é Tudo Bem no Natal que Vem, uma comédia de Natal estrelada pelo comediante Leandro Hassum, que atualmente é o maior campeão de bilheterias do cinema brasileiro, com dois ou até três lançamentos por ano.

Lançado no dia 3 de dezembro de 2020, Tudo Bem no Natal que Vem (que no mercado internacional recebeu o título Just Another Christmas) foi dirigido por Roberto Santucci, responsável por muitos dos maiores sucessos do cinema nacional nos últimos anos, incluindo a trilogia Até que a Sorte nos Separe e os dois O Candidato Honesto, todos estes também com Hassum.

Filmado no Rio de Janeiro, Tudo Bem no Natal que Vem conta a história de Jorge, um pai de família que odeia o Natal por ter nascido no dia 25 de dezembro. Depois de um acidente na véspera do Natal de 2011, ele acorda na mesma data do ano seguinte sem lembrar do que aconteceu no resto do ano, e isso passa a se repetir todos os anos.

Ou seja, ele passa a viver uma vida dividida. Nas vésperas de Natal ele é uma pessoa que vive somente essa data repetidamente (o que torna ainda mais evidente o fato de que sua família faz sempre tudo igual nessa data), e no resto do ano ele é outra pessoa, sem memórias do que acontece nas vésperas de Natal. Essas duas personalidades vão se tornando cada vez mais distintas uma da outra, enquanto o humor escrachado do início da trama vai cedendo lugar à sentimentalidade típica de um filme de Natal.

O destaque é a participação da sempre divertida Danielle Winits, repetindo com Hassum a parceira de Até que a Sorte nos Separe.

Charles Dickens Encontra Adam Sandler

Os cartazes de propaganda de Tudo Bem no Natal que Vem distribuídos por toda a cidade de São Paulo (e acredito que por todo o Brasil) me deram a impressão de que o filme fosse uma versão natalina de Feitiço do Tempo, a clássica comédia em que Bill Murray é um homem que de repente se vê preso num loop temporal, ou seja, passa a viver o mesmo dia repetidas vezes.

Mas, vendo o filme de Leandro Hassum, percebi que é na verdade um misto do livro Um Conto de Natal, de Charles Dickens, em que o velho Scrooge é um avarento que odeia o Natal, com a comédia dramática Click, em que Adam Sandler ganha um controle remoto mágico que lhe possibilita avançar no tempo para pular as partes chatas de sua vida e ir direto ao que lhe interessa.

Há ainda ecos da comédia romântica Como Se Fosse a Primeira Vez, também com Adam Sandler, em que seu personagem é apaixonado por uma mulher que sofre de falta de memória de curto prazo, de modo que todos os dias, ao acordar, não se lembra mais do que aconteceu do dia anterior para trás. E há ainda uma cena que, propositalmente ou não, lembra a ficção científica O Vingador do Futuro, em que Arnold Schwarzenegger interpreta um operário que recebe um implante de memória para simular a vida de um espião em viagem a Marte. Quem viu o filme do Arnoldão deve notar!

Sua Vez!

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