Quando vi pela primeira vez o cartaz de Lindinhas na Netflix, não fiquei nem um pouco interessado naquilo. O cartaz mostrava quatro meninas de aproximadamente onze anos vestidas de dançarinas em poses estranhas. Me pareceu ser um daqueles reality shows de crianças dançando. Achei bizarro.
Mas, quando soube que era um filme de ficção, e não um reality show, e que políticos conservadores estavam tentando censurar o filme, corri para vê-lo, antes que fosse removido da Netflix.
A Verdade por Trás da Polêmica
Ficou bem claro que as pessoas criticando Lindinhas não haviam sequer visto o filme. Viram somente o cartaz e já saíram falando que o filme "promove a sexualização de menores e a pedofilia", quando, na verdade, é justamente o contrário.
O erro da Netflix foi a escolha da imagem para o cartaz de divulgação na plataforma, que de fato passa uma imagem equivocada de Lindinhas, um filme independente francês premiado no Festival de Sundance de 2020 na categoria de direção.
Nos EUA, a Netflix até pediu desculpas pela forma como promoveu Lindinhas, reconhecendo o mau gosto do cartaz, que já foi trocado pelo original francês, bem melhor. E, quase ao mesmo tempo, a justiça brasileira rejeitou o pedido de censura ao filme, corretamente alegando ser inconstitucional.
Dirigido pela franco-senegalesa Maïmouna Doucouré, Lindinhas (Mignonnes no original, ou Cuties na versão em inglês) é na verdade uma crítica à sexualização de menores. Foi feito como um alerta, assim como o já clássico Kids, de 1995, dirigido pelo estadunidense Larry Clark.
Lindinhas versus Kids
Inspirado nas experiências da própria diretora, ela mesma de origem muçulmana, e também na observação do comportamento da juventude atual, Lindinhas retrata a vida da pequena Amy (a talentosa Fathia Youssouf), de onze anos, que vive numa região suburbana de Paris.
A solitária Amy vive o contraste entre dois modelos opostos de feminilidade. De um lado, os valores tradicionais de sua família muçulmana vinda do Senegal, e, do outro, a cultura das redes sociais, onde quanto mais sensuais são as fotos e vídeos postadas por garotas, mais likes elas recebem. Dois extremos.
Influenciada por um grupo de colegas de escola que treina para um concurso de dança, ela vai fazer tudo para se tornar popular, mesmo sem entender muito bem o significado de suas ações.
E, da mesma forma como Lindinhas denuncia a sexualização precoce de meninas potencializada pela influência da Internet, Kids denunciava a sexualização precoce de jovens num mundo pré-Internet, agravada pela disseminação da AIDS, que na época estava em seu auge.
Em comparação com Lindinhas, Kids é bem mais apelativo, com situações de sexo sem proteção, violência e abuso de drogas e álcool. É centrado em Telly (Leo Fitzpatrick), um garoto que, sem saber que está com AIDS, segue satisfazendo seu fetiche de tirar a virgindade de meninas mais novas. Lindinhas é um filme mais sensível.
Kids foi a estreia de Clark como diretor, assim como Lindinhas foi a estreia de Doucouré. Clark ainda fez outros filmes no mesmo estilo, como Ken Park, que foi ainda mais controverso (e ainda mais apelativo).
A Realidade das Crianças e Adolescentes
Filmes que mostram a realidade das crianças e adolescentes geralmente geram polêmica. Tradicionalmente, a infância é mostrada no cinema e na TV de forma idealizada, como num comercial de margarina. Pré-adolescentes são mostrados como os pais superprotetores gostariam que eles fossem, ou seja, como crianças pequenas. E na vida real não é assim.
Em geral, pré-adolescentes estão mais próximos de adolescentes do que de crianças. Já pensam em sexo, falam palavrão... Eu me lembro bem de como era quando eu tinha essa idade. Lembro bem do comportamento dos colegas de escola.
Educação Sexual
Por isso mesmo é que a educação sexual nas escolas é tão importante. Diferente do que políticos demagogos vêm pregando, não é a educação sexual que causa a sexualização precoce. É justamente o contrário.
Independente de terem ou não aulas de educação sexual, pré-adolescentes vão saber que sexo existe, seja por meio de colegas ou da Internet. A educação sexual nas escolas é uma justamente uma forma de evitar que os pré-adolescentes sejam suscetíveis à sexualização precoce, pois os torna conscientes.
O conhecimento é a melhor proteção contra a pedofilia, inclusive. Um pré-adolescente que foi educado sobre sexo, se for alvo de uma tentativa de abuso sexual, vai saber se defender disso muito melhor do que se tivesse sido mantido na ignorância. Vai saber que precisa denunciar o ocorrido.
E um filme como Lindinhas não deixa de ser educativo também, ao retratar a realidade de pré-adolescentes. É até irônico que seja classificado como impróprio para menores de dezesseis anos, já que retrata as vidas de meninas de onze anos.
Mas, como ressaltou o próprio juiz que rejeitou o pedido de censura do filme no Brasil, são os pais e responsáveis quem têm o direito de decidir quais conteúdos seus filhos podem assistir.
Sua Vez!
E você, já viu Lindinhas? Se não viu, pretende ver? O que acha da polêmica em torno desse filme? Quero saber sua opinião!
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