Vinda do sucesso da série Stranger Things, Millie Bobby Brown estrela e produz o simpático filme de mistério Enola Holmes (dirigido por Harry Bradbeer, da série Killing Eve), que a princípio seria lançado nos cinemas pela Warner mas, devido à pandemia de Covid-19, acabou sendo vendido pela produtora Legendary Pictures para lançamento diretamente na Netflix em 2020.
Jovem Heroína Feminista
Com tons feministas que o tornam um exemplo bastante positivo especialmente para garotas na faixa etária da protagonista, o filme é inspirado numa série de livros do gênero Young Adult, Os Mistérios de Enola Holmes (The Enola Holmes Mysteries), da autora estadunidense Nancy Springer, que, claro, se inspirou na obra do britânico Arthur Conan Doyle, criador do clássico detetive fictício Sherlock Holmes.
Com tons feministas que o tornam um exemplo bastante positivo especialmente para garotas na faixa etária da protagonista, o filme é inspirado numa série de livros do gênero Young Adult, Os Mistérios de Enola Holmes (The Enola Holmes Mysteries), da autora estadunidense Nancy Springer, que, claro, se inspirou na obra do britânico Arthur Conan Doyle, criador do clássico detetive fictício Sherlock Holmes.
No cânone de Conan Doyle, escrito entre 1887 e 1927, Sherlock possui apenas um irmão, o mais velho Mycroft Holmes, que aparece nas histórias O Intérprete Grego (1893), O Problema Final (1893) e Os Planos do Submarino Bruce-Partington (1908). Springer, no entanto, imagina para eles uma irmã mais nova, a também detetive Enola Holmes, que originalmente tem catorze anos, mas no filme tem a idade atual de Millie Bobby Brown, dezesseis.
O filme traz Helena Bonham Carter (a Bellatrix Lestrange de Harry Potter e frequente colaboradora nos filmes do ex-marido Tim Burton) como Eudoria Holmes, a revolucionária mãe dos irmãos Holmes. Viúva, ela cria sua filha para ser uma mulher independente e capaz inclusive de lutar, indo contra as tradições machistas da época, mas, um dia, desaparece.
Para procurá-la, Enola busca a ajuda de Sherlock (Henry Cavill, o ex-Superman do cinema e atual Geralt de Rívia da série The Witcher) e Mycroft (Sam Claflin, o príncipe de Branca de Neve e O Caçador), que não via há muitos anos, mas o sisudo Mycroft (que na obra de Conan Doyle é ainda mais brilhante do que Sherlock, mas no filme nem tanto), assumindo sua guarda, se mostra mais preocupado em mandá-la para um internato, o que faz com que ela fuja para Londres para continuar sua investigação por conta própria.
Os atores, todos britânicos, fazem um ótimo trabalho em seus papéis, mas quem se destaca é a própria Millie Bobby Brown, que se revela uma talentosa atriz, superando suas atuações anteriores. Divertida e carismática, ela passa o filme falando com a câmera, o que gera uma sensação de cumplicidade com o público. Só é difícil aceitar Henry Cavill como Sherlock, pois fisicamente ele não lembra em nada o personagem, mas OK.
O filme gerou uma disputa jurídica por causa de direitos autorais. O que acontece é que o cânone de Sherlock Holmes possui duas fases. A primeira, escrita antes da Primeira Guerra Mundial, apresenta um Sherlock frio e calculista. Essa fase está em domínio público, de modo que qualquer um pode usar o personagem sem precisar pagar nada ao Conan Doyle Estate, associação formada por oito membros da família de Arthur Conan Doyle.
Tanto que o personagem já apareceu em inúmeros livros, séries e filmes de autores variados sem que houvesse preocupações com direitos autorais. Já teve inclusive um irmão mais novo, Sirgerson Holmes, interpretado por Gene Wilder na sensacional comédia O Irmão Mais Esperto de Sherlock Holmes (The Adventure of Sherlock Holmes' Smarter Brother, de 1975), escrita e dirigida pelo próprio comediante.
Na segunda fase do cânone, porém, após perder o irmão e o filho na guerra, Conan Doyle desenvolveu um Sherlock mais humano e emocional, que, pela lei de copyright dos Estados Unidos, ainda não caiu em domínio público. Esse Sherlock mais humanizado aparece nas histórias publicadas a partir de 1923 e, segundo o Conan Doyle Estate, é o que aparece também nos livros de Nancy Springer e no filme. O ator Henry Cavill, no entanto, nega que o tenha interpretado dessa forma.
Um outro filme recente, Sr. Sherlock Holmes (Mr. Holmes, de 2015, baseado no livro A Slight Trick of the Mind, de Mitch Cullin), que mostra um Sherlock idoso interpretado por Ian McKellen, rendeu um processo pelo mesmo motivo, que terminou com um acordo entre ambas as partes. Eu particularmente achei o Sherlock de Enola Holmes humanizado, sim, mas vamos ver como essa nova disputa se desenrola!
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